O tabagismo é um dos maiores problemas de saúde pública da atualidade. Morrem hoje no mundo 4 milhões de pessoas por ano devido a doenças relacionadas ao tabaco; o mesmo número de pessoas atingidas pela tuberculose. "A Aids mata menos que o cigarro. Nos últimos anos a doença foi responsável pela morte de 20 milhões de pessoas; mas o tabaco matou 60 milhões de pessoas", afirma José Rosemberg, presidente do comitê Coordenador de Controle do Tabagismo no Brasil, vinculado ao comitê Latino-Americano de Controle do Tabagismo.
O problema do fumo no mundo é gigantesco e atinge todos os países. A nicotina é a droga que conta com a maior difusão no mundo e provoca dependência física e química maior que a cocaína e a heroína. É uma droga lícita que demora de 15 a 20 anos para causar malefícios. É a única que carrega cerca de 5 mil substâncias tóxicas. Quando o fumante traga, inala pelo menos 5 mil delas. Segundo Rosemberg, a epidemia tabágica é uma das maiores já enfrentadas pela medicina em todos os tempos e pode ser explicada por números que são, no mínimo, assustadores. Há no mundo hoje 1,25 bilhão de fumantes classificados. Se cada uma dessas pessoas conviver com dois não fumantes, haverá pelo menos 2 bilhões de pessoas que sofrem a conseqüência indireta do tabaco, entre fumantes ativos e passivos. "Isso significa que mais da metade da humanidade está direta ou indiretamente vinculada aos perigos do tabagismo"
No Brasil, a epidemia do tabaco começou a se alastrar em 1970 e de lá pra cá o consumo de tabaco no país aumentou 158%, enquanto a população cresceu 50%. Em todo o planeta consome-se 250 mil toneladas de nicotina por dia, o equivalente a 6 trilhões e meio de cigarros.
Mortes anunciadas Se o consumo de tabaco não for controlado no mundo, a Organização Mundial de Saúde estima que em 2020 o número de mortes decorrentes do fumo subirá para 10 milhões ao ano. "Imagina-se que no Brasil estejam morrendo entre 80 a 100 mil pessoas por ano em conseqüência do fumo", afirma Rosemberg.
Um dos grandes problemas do tabagismo são os fumantes passivos, que ficam expostos aos riscos do cigarro mesmo tendo optado por não fumar. O cigarro é o principal poluente doméstico que se conhece . Todo mundo, em algum momento da vida, foi exposto à fumaça do cigarro. A Agência de Proteção Ambiental norte-americana considera poluição tabágica ambiental fator A na classificação de cÂncer do pulmão. E já são três mil casos de enfartes de coração hoje, nos Estados Unidos, em fumantes passivos. A pior fumaça é que sai da ponta do cigarro, que não passou pelo filtro nem pelo pulmão do fumante e que impregna nas cortinas, estofados e tapetes.
Rosemberg diz que o risco varia de acordo com a idade de cada um, o número de horas que a pessoa passa com fumante, o número de cigarros e o tamanho do aposento em que se está. "Um estudo na França mostra que aumentou o numero de casos de câncer de pulmão em mulheres não fumantes com maridos fumantes. O problema é ainda mais sério com as crianças. No Brasil, temos hoje 15 milhões de crianças fumantes passiva.
No mundo todo são 700 milhões." Quando a mulher fuma durante a gravidez, corre maior risco de aborto, de descolamento da placenta e outras complicações. O feto recebe menos oxigênio, o que altera sua estrutura pulmonar e cerebral, além de aumentar o risco de morte súbita. Há maiores riscos da criança nascer nascer com defeitos congênitos e até com QI mais baixo. "Em famílias onde ninguém fuma, de 14 a 17% das crianças sofrem infecções pulmonares (bronquite, pneumonia, etc.). O número de casos dobra em casas de fumantes. Além disso, há maior risco de doenças como amigdalite, otite média e sinusite para a criança", explica o médico.
As leis estão mais rígidas, o tabagismo é discutido em todos os congressos médicos, coisa que não acontecia há dez anos. Sem dúvida, estamos melhorando, mas a luta depende do binômio legislação e educação. Não há lei que possa ser aplicada sem um preparo educacional e não há medida educacional que não dependa do amparo legal para ser eficiente", conclui o especialista.